sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Volta às aulas por Luís Giffoni

Ao fazer uma atividade com revistas na sala de aula do 3º ano sobre texto literário e não-literário, me deparo com este texto muito interessante de LUÍS GIFFONI, gostei muito e resolvi postá-lo aqui com os devidos créditos ao escritor Giffoni que ainda não conheço, pessoalmente, mas pretendo, quiçá, um dia. Segue o texto intitulado: Volta às aulas
Mais um ano se passou e continuo sem entender por que o professor de história exigiu que eu decorasse o nome dos doze Césares. Fui cobrado, como se o desconhecimento dos imperadores romanos me incapacitasse para a vida. Por que tive de aprender que albicastrense é o cidadão natural de Castelo Branco, cidade com 50 000 habitantes, na Beira Baixa, em Portugal? Num fim de semana fui ao fundo do poço para fazer uma redação sobre "O fundo da garrafa". Nunca usei um número com mais de quatro casas decimais, porém o valor de 3,1415926535 caiu numa prova. Pode? Sim, podia.
Hoje, não pode mais. Ainda bem. A escola atual baniu a cultura inútil. No entanto, também relegou a segundo plano assuntos importantes, como a compreensão e o uso da língua. Não sabemos ler nem escrever, mesmo depois de graduados no ensino superior. Pode? Sim, pode: 38% dos formandos nas faculdades são analfabetos funcionais. O quê? Temos doutores analfabetos? Sim, temos. Muitos. No Enem, num universo de 6 milhões de examinados, mais de 500 000 tiraram zero na redação. Pode? Sim, pode. Acaba de acontecer. Na outra ponta, a da competência, apenas outros 500 000 obtiveram aproveitamento acima de 70%. Triste coincidência esse número. Significa que 92% dos candidatos ainda namoram a mediocridade. Posto de outra forma, menos da metade dos alunos das escolas públicas municipais e estaduais acertou 50% das questões. Em dez anos, a média nacional melhorou 10%. Nesse ritmo, levaremos décadas para democratizar o conhecimento. As consequências são previsíveis.
Diante da situação, alguém logo sugerirá, de novo, que nosso ensino se reduza ao mais básico dos básicos. Bê-á-bá. A lógica parece perfeita: melhor saber pouco e bem do que nada de muito. Questiono a solução. Ela ficou para trás, atropelada pela realidade. Num mundo cada vez mais complexo, mais algorítmico, todos precisamos ir além das quatro operações, inclusive quem dita as normas. As aulas devem proporcionar uma ampla visão de mundo, uma noção geral do que nos torna humanos. Não é bicho de sete cabeças. Dezenas de escolas atingem essa meta. Qual o seu segredo?
Vou chover no molhado: aprender exige esforço, estudo exige tempo de todos os envolvidos. Insisto nessa chuva: ler e entender um texto, assim como escrever e se fazer entendido, sempre será mais importante do que repetir o nome dos Césares. Além disso, uma excelente base em matemática ajuda a vida em todos os sentidos, óbvia constatação que ainda ignoramos. Também ignoramos que os professores carecem de incentivo e treinamento constante. Em muitos países, os mestres são valorizados como responsáveis pelo futuro. E no Brasil?
Retorno ao número. Ele sintetiza nosso impasse. Milhares de estudantes do ensino médio não sabem o que significa. Constato esse fato nas escolas onde faço palestras. Com a ajuda de computadores, foi calculado com até oito quatrilhões de casas decimais, sem dúvida uma prova de avanço tecnológico misturado a exagero de diletantismo, mas seu valor aproximado de 3,1416 precisa estar na cabeça de qualquer graduado. Além de útil para a vida, integra a cultura há milênios, desde antes dos egípcios. Permitir que alunos cheguem ao Enem sem conhecimento, como hoje ocorre, torna o aprendizado uma piada. De mau gosto. Nosso ensino precisa voltar às aulas. Passa da hora.
 
Giffoni, concordo com tudo que você disse e creio que decorar os afluentes do Amazonas ou os doze Césares não levarão à nada. Nossos alunos precisam de ler e entender e terem mais acesso à informação de qualidade. Parabéns pela qualidade do texto (que não é literário, mas bem que podia ser...rsrsrs)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Direito autoral, propriedade intelectual e plágio

Para quem se interessa pelo assunto:

Direito autoral, propriedade intelectual e plágio

direitoautoral


A Universidade Federal da Bahia – UFBA disponibliza a publicação Direito autoral, propriedade intelectual e plágio.
O acesso é gratuito e poder ser feito pelo link: https://goo.gl/KzOlh6
Os assuntos tratados no livro são:
  • Direito autoral, propriedade intelectual e plágio;
  • Dramaturgia e autoria em obras cênicas;
  • Cultura digital;
  • Importância do registro em matéria autoral;
  • Considerações sobre plágio em educação a distância;
  • Direito autoral;
  • Acesso aberto;
  • Propriedade intelectual,
  • Ética em pesquisa.
Fonte: UFBA

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Como é duro trabalhar

Segundo dia útil da semana e surge um torcicolo acompanhado de uma dor de cabeça logo no primeiro horário da aula. Ninguém merece. Estou com a dor de cabeça aqui, até agora. Decidi que desabafar sobre as agruras da vida docente em facebook é dar tiro no pé, porque somos muito mal interpretados, mas em um blog não vejo tanto problema.
Quando saio esgotada de uma sala de aula, com a energia exaurida penso em Deus e na longa trajetória a cumprir. A cada dia é mais difícil "seduzir", "encantar" palavras empregadas largamente no meio docente. Neste exato momento quem precisa de ser encantada e seduzida sou eu para suportar os percalços da vida. Encarar uma sala de aula é dar a cara a tapa, se expor, estar vulnerável, diante de alunos machistas, descompromissados, desinteressados, desmotivados que nos assediam moralmente o tempo todo. Muito triste a realidade nas salas de aula. Competir com os smartphones, com os apelidos maldosos, o deboche. Solidarizo-me com os colegas de profissão que estão nessa missão.

COMO É DURO TRABALHAR TOQUINHO & VINICIUS


sábado, 22 de agosto de 2015


Mais um poema que pode ser utilizado em prova e que JÁ caiu no ENEM, bom para ser trabalho com turmas do 3º ano:

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
MEIRELLES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).

Pra nós das Gerais

Para nós das Gerais, texto gostoso para trabalhar em sala de aula ou numa prova. As variedades linguísticas. O adequado ou inadequado. O gostoso do vocabulário. As variantes linguísticas.
Você escolhe o que fazer com esse texto. Eu escolhi uma questão para prova do ensino médio, 3º ano.
Lembrando que esse fragmento caiu no ENEM de 2004. Para com os alunos do 3º ano sempre é bom lembrar!

Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra num desses meus badulaques. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma “varroa”(sic!) (você não sabe o que é uma “varroa”?) para corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está certo. O certo é “varrição” e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostra-lhes o xerox da página do dicionário com a “varroa” no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção” quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela mas reclama sempre que o prato está rachado.
ALVES, R. Mais badulaques. São Paulo: Parábola, 2004 (fragmento).

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

80ª postagem

Para completar 80 postagens nesse blog malfadado, continuo com o meu desabafo.
Estou odiando lecionar português, não pela disciplina, mas pela falta de interesse dos alunos.
Tenho a impressão de que estou jogando pérolas aos porcos.
Pronto, falei!
O Museu da Língua Portuguesa é algo impressionante na sua concepção, interação e tecnologia a que tudo isso se alia às palavras em forma de poesia e prosa. Quem for a São Paulo, por favor, não deixe de visitar o Museu da Língua Portuguesa, aos sábados a entrada é gratuita e para quem não for aos sábados, o valor do ingresso é de 6,00 a inteira. Vale muito a pena ir.
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Desabafo

Há dias em que é tão difícil lecionar. Ontem foi um dia assim. Uma noite por sinal, leciono à noite. O dia foi difícil e a noite muito demorada, as aulas de 50 minutos pareciam aulas de 150 minutos, mesmo tentando ser simpática, meus ouvidos doíam com o barulho das carteiras e disse aos alunos que se há barulho no inferno, não tenho dúvidas de que é de carteiras se arrastando. Insuportável.
Deus, já estou pagando meu quinhão nesta vida. Dai-me, por favor, outro destino, porque esse de lecionar para quem não está interessado não tá com nada.
Ontem uma aluna que só fica com celular na mão, deu uma gargalhada dentro de sala, já tive vários problemas de disciplina com ela. Aliás, não sei o que ela faz na escola, já que não leva caderno, não leva lápis, mas leva o celular. Insuportável.
Difícil, muito difícil e ainda tem gente que acha que o trabalho é fácil, porque "acham" que a gente "só trabalha quatro horas por dia". Quem me dera, quem me dera.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Resultado do ENEM-2014

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-08-05/resultado-do-enem-2014-por-escola-e-divulgado-pelo-inep.html


Resultado por escola dados do INEP:

http://portal.inep.gov.br/web/enem/enem-por-escola

Primeiro dia de aula

Ontem comecei o semestre letivo nos segundos anos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e o poema escolhido foi Momento de Mário de Andrade, escrito em abril de 1937. Trabalhei o texto escrito em forma de verso, expliquei a diferença entre o texto em forma de verso e o texto em forma de prosa, citei o exemplo do ENEM em que não é permitido textos em forma de verso e apenas em forma de prosa (parágrafos) e de quebra trabalhei algumas figuras de linguagem abordadas no 1º semestre, aproveitei a beleza do poema para falar das mudanças da vida, das escolhas, dos momentos que todos nós vivemos e da importância em reconhecer os tempos verbais usados pelo autor. Ainda falei da terminologia usada em muitos instituições de ensino do famoso "eu-lírico" e pedi para que os alunos comentassem sobre o que sentia o "eu-lírico" do poema. Ainda pedi para que não confundissem autor com narrador e com eu-lírico. Coisas distintas e que devem ser compreendidas pelo aluno para que ele não confunda. Abaixo o belíssimo poema de Mário Quintana:

Momento

O vento corta os seres pelo meio.
Só um desejo de nitidez ampara o mundo...
Faz sol. Fez chuva. E a ventania
Esparrama os trombones das nuvens no azul.

Ninguém chega a ser um nesta cidade,
As pombas se agarram nos arranhacéus, faz chuva.
Faz frio. E faz angústia... É este vento violento
Que arrebenta dos grotões da terra humana
Exigindo céu, paz e alguma primavera.

Em tempo: Preservei a ortografia do poema como em "arranha-céus", já que no dicionário consta arranha-céus. devido à mudança ortográfica. Fiquemos atentos! Abraços.